O amor em pouso de ave
Eis que eu te queria plena,
mas não com ares de entrega.
(Antes, o olho invasivo
da paixão aguda e cega).
Eis que eu te queria inteira
mas não assim, repentina.
(Antes, o corpo que aos poucos
é entregue a quem se destina).
Eu te queria fechada
sem janelas e postigos.
(Mas chave pronta em segredo
ao que não penso ou não digo).
Eu te queria nos ventos:
só por ver-te, me consolo.
Tu, o meu pássaro doido.
Eu, tua sombra no solo
Eis que eu te queria calma
mas não constante e tão quieta
.
(Antes, o denso imprevisto
de uma tela incompleta).
Eis que eu te queria louca
mas não assim, em conflito.
(Antes, linha que me solta
preso ao timbre do teu grito).
Eu não queria um amor
que sangra em beijo partido.
(Mas alma em pouso de ave
ao colo dos meus sentidos).
Eu aprendi que o teu nome
me liberta e me vigia.
Por isso te quero minha.
Para sempre. Ou por um dia.
(Jaime Vaz Brasil)