8-ESPERO
ESPERO
Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.
Sophia de Mello Breyner
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
ESPERO
Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.
Sophia de Mello Breyner
Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.
Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.
.
Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.
Sophia M. B. Andresen
Que bom seria
estar agora nos teus braços,
apertar meu corpo contra o teu,
para acalmar este peito meu,
que ardendo de paixão,
pede e implora por um abraço teu.
Abraça-me, amor...
transporta-me ao nirvana sonhado,
há tanto tempo esperado...
onde hoje quero viver com você,
extasiar-me de amor e prazer...
Abraça-me forte,
aplaca esta saudade de você...
Fechemos as portas do nosso castelo,
redoma das nossas mais secretas fantasias,
dos nossos mais secretos delírios,
reduto encantado do nosso amor.
Deixemos nossos corações,
há tanto tempo batendo em ânsia louca,
entrelaçarem-se no mesmo pulsar.
Aqueça-me com teu corpo,
afugenta o frio das minhas noites de solidão,
faz-me esquecer todo o temor
dos fantasmas que estiveram a rondar
as horas lânguidas dos meus dias sem você.
Abraça-me como senhor, soberano de mim...
e deixa-me ouvir a tua voz...
bem ao meu ouvido, sussurrando com emoção,
as palavras que apenas em sonhos ousamos pronunciar.
Abraça-me assim... cole-se a mim...
e meu ouvirás também te dizer,
como e quanto os meus pensamentos são teus.
JUAN RAMÓN JIMÉNEZ
Segredo
Esta noite morri muitas vezes, à espera
de um sonho que viesse de repente
e às escuras dançasse com a minha alma
enquanto fosses tu a conduzir
o seu ritmo assombrado nas trevas do corpo,
toda a espiral das horas que se erguessem
no poço dos sentidos. Quem és tu,
promessa imaginária que me ensina
a decifrar as intenções do vento,
a música da chuva nas janelas
sob o frio de fevereiro? O amor
ofereceu-me o teu rosto absoluto,
projectou os teus olhos no meu céu
e segreda-me agora uma palavra:
o teu nome - essa última fala da última
estrela quase a morrer
pouco a pouco embebida no meu próprio sangue
e o meu sangue à procura do teu coração.
FERNANDO PINTO DO AMARAL
Dizem que eu tenho amores contigo!
Deixa-os dizer!…
Eles sabem lá o que há de sublime
Nos meus sonhos de prazer…
De madrugada, logo ao despertar,
Há quem me tenha ouvido gritar
Pelo teu nome…
Dizem - e eu não protesto -
Que seja qual for
o meu aspecto
tu estás
na minha fisionomia
e no meu gesto!
Dizem que eu me embriago toda em cores
Para te esquecer…
E que de noite pelos corredores
Quando vou passando para te ir buscar,
Levo risos de louca, no olhar!
Não entendem dos meus amores contigo -
Não entendem deste luar de beijos…
- Há quem lhe chame a tara perversa,
Dum ser destrambelhado e sensual!
Chamam-te o génio do mal -
O meu castigo…
E eu em sombras alheio-me dispersa…
E ninguém sabe que é de ti que eu vivo…
Que és tu que doiras ainda,
O meu castelo em ruína…
Que fazes da hora má, a hora linda
Dos meus sonhos voluptuosos -
Não faltes aos meus apelos dolorosos
- Adormenta esta dor que me domina!
Judith Teixeira
Longe de ti são ermos os caminhos, Longe de ti não há luar nem rosas, Longe de ti há noites silenciosas, Há dias sem calor, beirais sem ninhos! Meus olhos são dois velhos pobrezinhos Perdidos pelas noites invernosas... Abertos, sonham mãos cariciosas, Tuas mãos doces, plenas de carinhos! Os dias são Outonos: choram... choram... Há crisântemos roxos que descoram... Há murmúrios dolentes de segredos... Invoco o nosso sonho! Estendo os braços! E ele é, ó meu Amor, pelos espaços, Fumo leve que foge entre os meus dedos!... |
Foto de Marta Ferreira - Olhares
"Não adormeças: o vento ainda assobia no meu quarto e a luz é fraca e treme e eu tenho medo das sombras que desfilam pelas paredes como fantasmas da casa e de tudo aquilo com que sonhes. Não adormeças já.
Diz-me outra vez do rio que palpitava no coração da aldeia onde nasceste, da roupa que vinha a cheirar a sonho e a musgo e ao trevo que nunca foi de quatro folhas; e das ervas húmidas e chãs com que em casa se cozinham perfumes que ainda hoje te mordem os gestos e as palavras.
O meu corpo gela à míngua dos teus dedos, o sol vai demorar-se a regressar. Há tempo para uma história que eu não saiba e eu juro que, se não adormeceres, serei tão leve que não hei-de pesar-te nunca na memória, como na minha pesará para sempre a pedra do teu sono se agora apenas me olhares de longe e adormeceres."
Maria do Rosário Pedreira
ANRIQUE PAÇO D'ARCOS
De tudo só ficam três coisas:
A certeza de que estamos sempre começando. A certeza de que é preciso continuar. A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar.
Portanto devemos fazer:
Da interrupção um novo caminho. Da queda, um passo de dança. Do medo, uma escada. Do sonho, uma ponte. Da procura, um encontro.
(Fernando Pessoa)
4 seguidores
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.